A partir do acidente, Marcelo vê sua vida mudar radicalmente. Seus dias no hospital, as visitas que recebeu, as histórias que viveu são relatadas sob uma nova perspectiva: a de um jovem que sempre fez tudo o que podia e queria, e que, agora, sentado em uma cadeira de rodas, vê-se impotente diante dos acontecimentos, dependendo da ajuda de amigos e familiares para reaprender a viver.
“Levei um ano para escrever este livro, tinha 26 anos. Ouvia Clash, era punk. Fiz só um tratamento depois de escrever, é meu livro mais visceral. É um livro que tem muitos flash-backs, que apareciam quando eu estava cansado de escrever a história principal, do acidente, e começava a falar sobre outras coisas. É um livro sobre construção de identidade, de fé, não é só um livro sobre o acidente”, afirmou Marcelo em entrevista recente.
O autor confere à narrativa a mesma energia e o mesmo fôlego com que transpôs a armadilha do destino. “O livro foi propositalmente coloquial, eu calculei que faltava naquele momento um livro que falasse a linguagem das ruas”. Imóvel numa cama, Marcelo, o personagem, dá asas às lembranças e à imaginação. Foram 12 meses de uma recuperação lenta e dolorosa: dias e noites intermináveis numa UTI, o colete de ferro, a descoberta de que teria como extensão do seu corpo uma cadeira de rodas, os momentos em que chegou a contemplar o suicídio.
Apesar do tema trágico, Feliz Ano Velho – vencedor do Prêmio Jabuti e adaptado para o teatro e cinema – tem momentos de humor, ternura e erotismo. Marcelo se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e encorajamento da turma, as festas e as fantasias sexuais. O acidente no lago seria o segundo tranco na vida do garoto. O primeiro foi aos 11 anos: o “desaparecimento” do pai – o ex-deputado federal Rubens Paiva – pela ditadura militar.
O escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva nasceu em São Paulo, em 1959. Formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, freqüentou o mestrado de Teoria Literária da Unicamp e o King Fellow Program da Universidade de Stanford, Califórnia. Feliz Ano Velho (1982) é seu romance de estréia. Além deste, o escritor publicou 5 romances: Blecaute (1986), Ua:brari (1990), Bala na Agulha (1992) e Não És Tu, Brasil (1996) e Malu de Bicicleta. Todos serão relançados pela Objetiva.
Marcelo Rubens Paiva foi traduzido para o inglês, espanhol, francês, italiano, alemão e tcheco. Suas crônicas e contos foram reunidos nos livros. As Fêmeas (1994) e O Homem Que Conhecia as Mulheres (2006). Como dramaturgo, escreveu: 525 Linhas (1989); O Predador Entra na Sala (1997); Da Boca pra Fora – E Aí, Comeu? (1999, Prêmio Shell); Mais-Que-Imperfeito (2000); As Mentiras que os Homens Contam (2001); Closet Show (2001) e No Retrovisor (2002).
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