Perto do Coração Selvagem é o romance de estréia de Clarice Lispector. Publicado originalmente em 1943, o livro é marcado pelo estilo introspectivo da escritora. Recebeu muitas críticas positivas na época, sendo premiado como melhor romance de estréia pela Fundação Graça Aranha em 1944.
Escrito quando ela tinha 20 anos, o livro tem como protagonista Joana, narrando sua história em dois planos narrativos: sua infância e o início de sua vida adulta. A infância junto ao pai, a mudança para a casa da tia, a ida para o internato, a descoberta da puberdade, o professor ensinando-lhe a viver, o casamento com Otávio. Todos estes fatos passam pela narrativa, mas o que fica em primeiro plano é a geografia interior de Joana. Ela parece estar sempre em busca de uma revelação. Inquieta, analisa instante por instante, entrega-se àquilo que não compreende, sem receio de romper com tudo o que aprendeu e inaugurar-se numa nova vida. Ela se faz muitas perguntas, mas nunca encontra a resposta.
A literatura brasileira era nesta altura dominada por uma tendência essencialmente regionalista, com personagens contando as dificuldades da realidade social do país na época. Clarice Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, seja pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, seja pelo estilo solto, elíptico e fragmentário. Este estilo de escrita se tornou marca característica da autora, como pode ser observado em seus trabalhos subsequentes. Na época da publicação, muitos associaram o seu estilo literário introspectivo a Virginia Woolf ou James Joyce, mas ela afirma não ter lido nenhum destes autores antes do seu romance inaugural. O título, uma referência a epígrafe de Joyce, foi sugerido por Lúcio Cardoso após o livro ter sido escrito.